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PIB – PRODUTO INTERNO BRUTO




PUXADO POR RECURSOS NATURAIS E SERVIÇOS, PIB CRESCE 2,9% EM 2023, ENQUANTO A INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO CAI 1,3% NO ANO


Com balanço de forças mais favorável para a indústria de transformação em 2024, FIESP projeta crescimento 1,0% para o setor neste ano


Resultado 4o trimestre de 2023


O PIB brasileiro ficou estável no 4o trimestre de 2023 (0,0%), após também registrar estabilidade no 3o trimestre, crescer 0,8% no 2o trimestre e 1,3% no 1o trimestre, considerando dados com ajuste sazonal. O resultado veio entre a projeção da FIESP (-0,1%) e a expectativa do mercado (+0,1%).


Pela ótica da oferta, a indústria geral cresceu 1,3% no 4o trimestre sobre o 3o trimestre do ano. O desempenho do setor no trimestre resultou do avanço da indústria extrativa (+4,7%), da construção civil (+4,2%) e de eletricidade, gás, água e esgoto (+2,8%), enquanto a indústria de transformação registrou queda de 0,2%. O setor de serviços também avançou (+0,3%), com destaque para outras atividades e serviços (+1,2%) e atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (+0,7%). A agropecuária, por sua vez, registrou queda de 5,3% no trimestre.


No que se refere à ótica da demanda, as exportações aumentaram 0,1% no trimestre, enquanto as importações avançaram 0,9% no mesmo período. Além disso, o consumo das famílias caiu 0,2% e o consumo do governo avançou 0,9% na passagem trimestral. Por fim, a formação bruta de capital fixo cresceu 0,9% no 4o trimestre de 2023, interrompendo uma sequência de quatro trimestres consecutivos de queda, quando acumulou perda de 6,8%. Todos os dados acima contemplam ajuste sazonal e são detalhados na Tabela 1.


Tabela 1: Variações trimestrais do PIB (em %) 

Fonte: elaboração FIESP a partir de dados do IBGE. Dados com ajuste sazonal. 


Resultado no ano 


Em 2023, a economia brasileira cresceu 2,9%, ritmo de crescimento próximo ao observado no ano anterior (+3,0%). O resultado veio próximo à projeção da FIESP (+3,0%) e em linha com a expectativa do mercado (+2,9%). Com o desempenho verificado no último trimestre do ano, o carregamento estatístico [1] para 2024 é de apenas 0,2%. 


Pela ótica da oferta, a indústria geral cresceu 1,6% em 2023 na comparação com 2022. O crescimento do setor resultou do bom desempenho da indústria extrativa (+8,7%) e eletricidade, gás, água e esgoto (+6,5%). Já a indústria de transformação (-1,3%) e a construção civil (-0,5%) registraram variações negativas. O setor de serviços também avançou (+2,4%), com destaque para atividades financeiras e seguros (+6,6%) e informação e comunicação (+2,6%). Por fim, a agropecuária, registrou crescimento expressivo de 15,1% no ano.  


No que se refere à ótica da demanda, as exportações aumentaram 9,1% em 2023, enquanto as importações caíram 1,2% no mesmo período. Além disso, o consumo das famílias cresceu 3,1% e o consumo do governo avançou 1,7% em 2023. Por fim, a formação bruta de capital fixo registrou forte queda no ano (-3,0%).  Os dados acima são detalhados na Tabela 2. 


Tabela 2: Variações anuais do PIB (em %) 

 Fonte: elaboração FIESP a partir de dados do IBGE.   

 

O crescimento da economia brasileira em 2023 foi concentrado, principalmente, em recursos naturais e serviços 


O PIB em 2023 correspondeu a mais um ano de surpresa positiva em relação à expectativa do início do ano [2]. Em janeiro de 2023, o mercado esperava crescimento de apenas 0,8%, ou seja, houve um desvio altista de 2,1 p.p. entre o valor esperado no começo do ano e o dado verificado. Mas, se é verdade que 2023 correspondeu a mais uma surpresa positiva do PIB, também é verdade que a composição do crescimento foi desequilibrada.  


O setor agropecuário apresentou expressivo avanço em 2023, em decorrência da supersafra de grãos. De acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção de grãos aumentou 17,3% entre 2022 e 2023, atingindo patamar recorde de 320 milhões de toneladas produzidas no ano. Além dos efeitos diretos do desempenho do setor agropecuário sobre o PIB, destacam-se os seus transbordamentos para outros segmentos, como, por exemplo, o setor de transportes, responsável pelo escoamento de grãos, as cadeias agroindustriais, além do efeito positivo sobre a elevação da demanda por bens e serviços decorrente do aumento da renda agrícola. A Fiesp estima que no ano de 2023 a contribuição do setor agropecuário para o PIB foi de 0,9 p.p.  


A indústria extrativa também apresentou resultado expressivo em 2023 (+8,7%), puxado pelo aumento da demanda externa por petróleo e minério de ferro. De acordo com dados da Agência Nacional de Petróleo (ANP), a produção de petróleo cresceu cerca de 12,6% entre 2022 e 2023.   


Juntos, os setores agropecuário e extrativo contribuíram para o resultado recorde da balança comercial brasileira em 2023 (US$ 98,8 bilhões). Importa destacar que esse resultado foi alcançado a despeito da redução dos preços internacionais das commodities no ano em comparação a 2022 [3], o que indica que o significativo crescimento das exportações é explicado pelo aumento do quantum exportado. Dentre os produtos exportados em 2023, destacam-se soja, petróleo e minério de ferro.  


 Para além do bom desempenho dos setores baseados em recursos naturais, o crescimento em 2023 também foi favorecido pela manutenção do dinamismo do setor de serviços e do consumo das famílias, que foram impulsionados pela forte expansão real da massa salarial ampliada (+6,8%), pelo mercado de trabalho resiliente e pelo processo desinflacionário verificado ao longo do ano.  


Cabe destacar, também, o impacto da ampliação do principal programa de transferência de renda do governo federal sobre o PIB. O orçamento do Bolsa Família passou de R$ 106,9 bilhões em 2022 para R$ 165,3 bilhões em 2023 [4]. Essa expansão correspondeu a um importante impulso fiscal. Para além dos efeitos diretos da ampliação do benefício sobre a economia, também ocorreram efeitos indiretos via mercado de trabalho (força de trabalho, taxa de desemprego, salários). Estes efeitos contribuíram para a forte expansão da renda das famílias no ano. A Fiesp estima que cerca de 0,4 p.p. do PIB em 2023 correspondeu ao impulso fiscal advindo da ampliação do Bolsa Família [5].  


Logo, o crescimento da economia brasileira em 2023 decorreu, em grande medida, do desempenho excepcional de setores baseados em recursos naturais e da expansão da renda das famílias, beneficiada pelos estímulos fiscais. Tais fatores neutralizaram, em parte, os efeitos adversos da política monetária restritiva sobre a economia.  



Quadro de fraqueza da indústria de transformação e dos investimentos 


Em contraposição, os setores mais sensíveis aos juros continuaram apresentando fraqueza. Em 2023, a indústria de transformação caiu 1,3% e a construção civil, 0,5%. Tais setores têm sido afetados pelos efeitos defasados da política monetária fortemente contracionista. Com este resultado de 2023, o PIB da indústria de transformação registrou a sétima queda em dez anos. Cabe destacar que a participação deste setor no PIB foi de 15,3% em 2023, considerando preços correntes. A preços contantes de 2019, no entanto, a participação foi de 10,8%, a menor da série histórica, tendo sido mantida a trajetória de queda.  


Pela ótica da despesa, o destaque negativo foi a formação bruta de capital fixo, que caiu 3,0% no ano. Este cenário negativo dos investimentos tem sido caracterizado, sobretudo, pela fragilidade do segmento de máquinas e equipamentos. A formação bruta de capital fixo desse segmento, em específico, caiu 9,4% em 2023 em comparação com 2022 (Gráfico 1). 




Gráfico 1: Abertura da FBCF – Variação em 2023 (%) 

Fonte: elaboração FIESP a partir de dados do IBGE. 


Nesse cenário de dificuldade dos investimentos e dos setores mais cíclicos da economia, é difícil defender a tese de que as recorrentes surpresas do PIB no Brasil têm sido resultantes de mudanças estruturais importantes, que pudessem ter afetado o crescimento potencial. Isto é, ainda não há evidências claras de que as surpresas com o crescimento derivaram de razões estruturais. As causas foram, sobretudo, conjunturais, com destaque para o ótimo desempenho de setores ligados a recursos naturais e de segmentos mais sensíveis à renda. Considerando a taxa de investimentos atual de cerca de 16,0% (a preços contantes de 2019) e o avanço da produtividade em torno de 0,0% e 0,5%, o crescimento de longo prazo permanece baixo, entre 1,5% e 2,0% [6].  

 


Cenário para 2024: avaliação prospectiva da Fiesp 


Em 2024, a economia brasileira também deverá crescer, mas o padrão de crescimento não deverá ser homogêneo. O primeiro semestre do ano deverá ser caracterizado pelo baixo dinamismo econômico, como consequência do pior desempenho da agropecuária e dos efeitos defasados da política monetária ainda contracionista. De posse das informações atualmente disponíveis, o Fiesp Data Tracker sinaliza alta de 0,4% para o PIB no 1º trimestre de 2024 frente ao último trimestre de 2023.  


O ritmo de crescimento, no entanto, deverá ganhar tração no segundo semestre do ano em virtude da gradual flexibilização das condições financeiras e monetárias, somada à continuidade da expansão da renda das famílias. A respeito das condições financeiras, o ICF-FIESP ainda está em terreno restritivo, sobretudo devido ao patamar elevado dos juros nas principais economias. Quando desagregado em fatores internos e externos, é possível observar que os fatores internos têm contribuído para trazer o ICF-Fiesp para o campo estimulativo nos últimos meses, enquanto os fatores externos ainda têm atuado no sentido contrário [7] (Gráficos 2 e 3).  



Fonte: elaboração FIESP a partir de dados da Bloomberg, BCB e FED. 



A agropecuária deverá registrar queda em 2024 (-1,0%), com influência negativa do El Niño sobre a produção de grãos, sobretudo da cultura do milho. A Conab estima queda de 6,3% da produção de grãos na passagem de 2023 para 2024. O setor de serviços, por sua vez, deverá continuar crescendo (+1,9%), puxado pelo crescimento real da massa salarial ampliada, que deverá ser de aproximadamente 4,8% em 2024, considerando a total incorporação dos precatórios [8]. 


Por fim, a indústria de transformação deverá apresentar um desempenho melhor em 2024 e, sobretudo, em 2025, com contribuição da queda dos juros e melhora das condições financeiras. Outro potencial impulso para o setor são as políticas públicas recentemente anunciadas pelo governo federal, como a Depreciação Super Acelerada, Mover e o Plano Mais Produção (P+P). A Fiesp projeta crescimento de 1,0% para o PIB da indústria de transformação em 2024. Para o PIB agregado, de posse das informações atualmente disponíveis, a Fiesp espera crescimento de 1,8% em 2024 (Gráfico 4). 


Fonte: elaboração FIESP a partir de dados do IBGE. 


As projeções desagregadas da Fiesp para os componentes da oferta e os componentes da demanda para o ano de 2024 são apresentadas abaixo, na Tabela 3: 

 

Tabela 3: Variações anuais do PIB (em %) 


[1] O carregamento estatístico (“carry over”) diz respeito à herança estatística de uma série. Ou seja, caso o PIB brasileiro fique estável ao longo dos próximos quatro trimestres, deverá crescer apenas 0,2% em 2024.

Fonte: elaboração FIESP a partir de dados do IBGE.  

 

[1] O carregamento estatístico (“carry over”) diz respeito à herança estatística de uma série. Ou seja, caso o PIB brasileiro fique estável ao longo dos próximos quatro trimestres, deverá crescer apenas 0,2% em 2024.


[2] Cabe destacar que nos anos precedentes, 2021 e 2022, o PIB também surpreendeu positivamente. No início de 2021, o mercado esperava crescimento de 3,4%, e a economia avançou 4,8%. Em 2022, a expectativa inicial era de elevação de 0,3%, sendo que o PIB cresceu 3,0%.


[3] Em 2022, com a eclosão da Guerra na Ucrânia, foi observada elevação importante dos preços das commodities.


[4] Orçamento realizado.


[5] Estimativa elaborada pela FIESP a partir de dados do IBGE, Ministério do Desenvolvimento Social e Receita Federal.


[6] Estimativa FIESP a partir de dados do IBGE


[7] O IC-FIESP desagregado em fatores internos e fatores externos foi construído com base na metodologia desenvolvida pelo Banco Central no Relatório de Inflação de Dezembro de 2022: “Decomposição do Indicador de Condições Financeiras em fatores domésticos e externos”.


[8] O governo federal anunciou o pagamento de precatórios no montante de R$ 93 bilhões ao longo de 2024. No cenário em que esse montante é totalmente incorporado na massa salarial ampliada (MSA), o crescimento desta é estimado em 4,8%, em termos reais. No cenário oposto, em que os precatórios não são incorporados na MSA, o crescimento desta é estimado em 3,0% em termos reais. Em ambos os cenários, a expansão da renda das famílias é significativa e deverá contribuir para a manutenção da MSA em patamar elevado ao longo deste ano. A Fiesp estima que o impacto dos precatórios no PIB em 2024 deverá ser de aproximadamente 0,2 p.p.

 


FonteL FIESP

 

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